segunda-feira, 9 de maio de 2011

[Lisboa parte III] Fado Vadio e Maria Severa

Como vocês já sabem, na minha primeira noite em Lisboa fiz um amigo músico, Gonçalo.Pois, ele me deu um livro sobre fado (Lisboa o Fado e os Fadistas), e eu descobri que o fado é muito mais do que eu imaginava @_@
Então quem não tiver interesse, sugiro pular esse post,pois agora vou falar sobre a origem e as personagens sujas da música nacional portuguesa!

O fado é o desdobramento das cantigas de amor e amigo, era efetivamente cantado por marinheiros e principalmente por suas amadas, que esperavam seu retorno no cais - O que muitas vezes não acontecia. Então o fado é essencialmente triste.
Hoje em dia, assim como o Samba, o Fado é uma atração turística elitizada (embora,assim como o Samba, existam pequenas casinhas onde ainda existe algo não comercial e passional -O Fado Vadio- menos bem feito,mas mais emocionante). Mas houve um tempo em que esse tipo de música era quase uma exclusividade da parcela mais desgraçada da população Lisboeta, os marinheiros e as putas.
 Acervo do Museu do Fado
O fadista (estamos falando do século XIX) é meio que o equivalente luso do malandro, eram pessoas cheias de tatuagens (de marinheiro:Âncoras e corações old school), boas de ofensa, boa parte do tempo bêbados e que, munidos de punhais retráteis, esfaqueavam por pouca coisa. OU SEJA= TR000!
O Fado, ao contrário do que restou hoje, era uma música cantada/dançada extremamente sensual.A música era meio que percussionada com as coxas, primeiramente entre duas pessoas, e posteriormente, batendo as mãos contra as proprias coxas.Esse tipo de fado é o Fado Batido.E a galera tinha que bater o fado (e pode imaginar aqui algo meio Flamenco,cheio de giros e tal) dentro de um circulo feito com ovos, sem quebra-los.Claro, também havia o fado somente cantado, pq né,como dança com música bad trip.
A figura mais emblemática do fado chama-se Maria Severa, filha de cigano e uma célebre prostituta ela era puta também e odiava isso, e porque tristeza pouca é bobagem, ela se envolveu com um fidalgo e se apaixonou por ele.Ela sabia que eles jamais ficariam juntos, então ia nos botecos cantar a desgraça que era sua vida.O Fado, para Severa e para tantos outros, era,junto com a bebida, a única válvula de escape da miséria, então não tratava-se apenas de música, era sublimação.(Mais sobre Severa aqui)
Severa batia o fado como ninguém, era mezzo soprano (como toda fadista deve ser) e literalmente entregou a vida ao fado, ela era tão fodida e cantava com tanto ardor, que muitas vezes, no meio da musica, cospia sangue. Ela morreu aos 26 anos de tuberculose,abandonada num bordel e tornou-se o símbolo máximo do fado. SIM,ESSA MULHER EXISTIU!

E EU FUI NA CASA DELA!!!

A casa dela ainda existe, fica na Mouraria. Eu fui toda contente, esperando encontrar ali perdido no bairro um lugar fantástico, mas, por algum motivo, a casa da Severa é um lugar esquecido por Lisboa (o que não faz sentido, já que existe um museu do fado e um museu da Amália Rodrigues).
Chegando na Rua do Capelão, logo na entrada havia uma mulher louca,usando uma peruca VERDE gritando todo tipo de impropérios - Vai entrando no clima da Mouraria...
É um bairro essencialmente africano, cheio de negros e árabes (achei o maximo a MOURARIA estar realmente cheia de Mouros!).E é um bairro tenso e todos me olhavam com uma cara ameaçadora de "você não pertence a esse lugar".
Pois, na entrada da rua do Capelão, um monumento modesto sobre o fado e mais nada.
Filmei minha passagem pela rua:

A casa da Severa fica logo ao lado desse barzinho BIZARRO, o Amigos da Severa. O bar era forrado de cartazes sobre fado e capas de vinis da Amalia Rodrigues e tinha uns velhos e velhas muito estranhos lá dentro.Permaneci lá menos de 10 segundos.
A Rua do Capelão, casa da Severa, berço do Fado, que deveria ser um patrimônio nacional, estava tal qual Maria a deixou no século 19.Suja, medonha e fétida.Não era cheiro de mijo, era cheiro de carne podre.
Se,por um lado me entristeci com o descaso sobre um lugar tão significante, por outro, foi legal ver a rua como ela devia ser quando Severa andava ali.Mas isso é,definitivamente, um turismo para amantes incondicionais do fado.














Fachada da casa da Severa, provavelmente a ultima visita da prefeitura de Lisboa foi em 1989, pra colar essa placa,que é a única coisa sobre a Severa que existe ali.

Abaixo, esquina da Rua do Capelão e o Beco do Forno


Enfim, se eu ja amava o Fado, agora tornou-se impossível abandoná-lo!

[Lisboa parte II] O Bairro Alto

Nossa, acho que a ordem cronológica do post anterior ta tudo errada..Mas enfim.

No meu penúltimo dia em Lisboa subi até o Bairro Alto, que é o bairro pop de Lisboa, onde existem milhões de tasquinhas tradicionais,casinhas de fado vadio e onde a vida noturna bomba. Eu fui de manhã. (hoje o post vai estar cheio de fotos)

Rua típica do Bairro Alto com portas de tasquinhas

 "Hoje há Fado"

Pois, na hora do almoço, sentei em uma tasquinha e pedi uma especialidade portuguesa chamada Alheira.Consiste em um embutido frito feito de carne de porco,alho,e temperos maravilhosos.A diferença disso e de uma linguiça é que,a alheira é empanada e o recheio é cremoso, a carne é desfiadissima perdida num creme absurdo de Whatever.O resultado é algo com consistencia de patê de atum, mas com gosto ultra suave de bacon e alho.Ah,não da pra explicar...Embora eu saiba que alguns de vós hão de ficar com nojo, aí vai um video que eu TIVE que fazer pra nunca esquecer da consistencia maraviilhosa da Alheira:

 

Bom, continuando minha aventura pelo Bairro Alto:
Há um lugar que pouca gente conhece, perdido em Lisboa,mas que é provavelmente a tasca/cervejaria/casa de chá mais incrível do mundo! Chama-se Pavilhão Chinez (sic) e deixa qualquer Hard Rock café no chinelo.
As paredes desse lugar são cobertas de estantes cheias de coleções de tudo que se puder imaginar:Bonecas de porcelana, soldadinhos de chumbo,leques espanhois,miniaturas de tudo e artigos de guerra- Coleção de chapéus napoleônicos,medalhas (originais de todo tipo de oficial da 1ª e 2ª Guerra), mosquetes, uniformes, quepes,ombreiras da cavalaria, enfim, TUDO.
Parede do 1º salão do Pavilhão Chinez
Teto de uma sala forrada de artigos militares (soldadinhos  a esquerda, chapéus a direita, medalhas ao fundo -e mais uma infinidade de coisas)
Entrada da sala de sinuca
Balcão ao fundo da sala de sinuca -Reparem nos detalhes!!

Eu fiquei em PANICO quando descobri esse lugar, pois estava sozinha e não tinha com quem compartilhar a emoção -e uma partida de sinuca.
Enfim, quando forem a Lisboa (e se não pretendem, eis um bom motivo pra irem) NÃO DEIXEM de tomar um chá/cerveja no Pavilhão Chinez,Ele abre as 18:30 e fica até as 2hs.Basta subir a avenida do mirante do Bairro Alto, antes de chegar no Parque do Príncipe.Fica a esquerda, uma porta pequena adornada com um portal chines.

E pra finalizar, mais fotos do Bairro Alto, o mais lindo de Lisboa!
Mirante com vista para Alfama, Mouraria, Chiado e rio Tejo
Luso!
Por isso que chama Bairro Alto.